O
depoimento do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da
República (PGR), divulgado em vídeo “vazado” pela
Câmara dos Deputados – ao que tudo indica intencionalmente –
expõe com clareza a farsa montada pelas principais instituições do
regime político à mando do imperialismo para derrubar o
governo da presidenta Dilma Roussef, abrindo caminho – como estamos
vendo – para o maior ataque de todos os tempos contra a
economia nacional e a classe trabalhadora brasileira.
Sob o
disfarce de campanha de combate à corrupção, o golpe veio
para promover um retrocesso sem igual nas condições de vida, de
trabalho, de cassação dos direitos democráticos da maioria da
população; como se vê nesta semana na Portaria do governo golpista
que libera o regime de escravidão em várias áreas, ao criar
restrições absurdas na fiscalização do trabalho escravo.
A
confissão de Funaro deixa evidente que a destituição de
Dilma, para permitir toda esta ofensiva criminosa contra a
imensa maioria do povo, foi comprada na
Câmara pelo então presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha
(PMDB), que comandou a votação de admissibilidade do processo que
iniciou o afastamento da presidenta, que levou a seu impeachment.
À
esta delação se juntam várias outras provas robustas – e
não convicções – que mostram que o núcleo central do
atual governo constitui uma verdadeira quadrilha, remunerada por
poderosos grupos empresariais que apoiaram o golpe de estado.
Abundam as evidências de que esse golpe foi tramado e realizado não
apenas por elementos marginais do congresso nacional, mas também
pela venal imprensa burguesa, pelas maiores corporações
capitalistas internacionais e “nacionais”, pelos chefes militares
e “abençoada” em todas as sua etapas pelo Judiciário golpista.
Na
delação gravada, Funaro dá detalhes da operação criminsa, como
ao afirmar que Cunha pediu R$ 1 milhão para repassar a
parlamentares para que estes votassem a favor do impeachment e cita
beneficiários da compra do voto. Segundoo delator, “Michel
Temer e Eduardo Cunha tramavam
diariamente a
saída da presidente Dilma Rousseff”; “depois de uma semana de
aprovado o impeachment, comecei a enviar dinheiro para ele (Cunha)
ir pagando os compromissos que ele tinha assumido” e “o dinheiro
foi entregue em Brasília, Rio e São Paulo”.
A
delação ao confirmar o golpe de estado, a operação
criminosa, totalmente por cima da Constituição Federal coloca o
Supremo Tribunal Federal – STF – suposto “guardião da
Constituição” diante de mais uma prova de sua parcialidade
diante do golpe, depois de muitas demonstrações de que está e
várias outras cortes superiores – bem como instâncias
menores, como o juízo de exceção chefiado pelo juiz Sérgio
Moro -. Ou seja, se não age imediatamente diante da delação
– e não há o menor indicio de que irá faze-lo. Pelo
contrário, é evidente que aquela corte suprema age para deixar
para as “calendas gregas” o julgamento da ação em
que a presidenta pede a anulação do impeachment.
Nestas
condições, a única alternativa não é se curvar em suplicas
diante do STF – como se apressam em fazer muitos setores que não
apoiam a luta pela anulação e até defenderam um entendimento com
os golpistas. 0 STF é cúmplice do golpe e cego, surdo e mudo
diante das reivindicações populares e de tudo que tenha a ver com
a defesa dos maiores interesses do povo brasileiro.
A defesa
da presidenta Dilma Rousseff , acertadamente, requereu a juntada
dessa prova nos autos do mandado de segurança, em que se pede a
anulação da decisão que cassou o mandato em processo totalmente
fraudulento.
Tal
iniciativa jurídica não é suficiente.
A
situação reforça o acerto da política de mobilização
levada adiante pelo PCO e Comitês de Luta contra o Golpe
e pela Anulação do Impeachment, contra a paralisia da maioria da
esquerda que aceita “virar a página do golpe”; por um lado,
apontando para a “saída” imaginária das eleições 2018 – da
qual não há qualquer garantia de realização e menos ainda de
vitoria da esquerda, diante da clara ameaça de prisão de Lula, de
golpe militar, perseguição à esquerda etc.; por outro, encenando
uma “luta contra as reformas” que – de fato – não existe e
que não pode existir e ser efetiva sem uma luta geral contra o
golpe que é a base de toda a ofensiva da direta
pro-imperialista contra os explorados e a economia nacional.
Mais
do que nunca, é preciso reforçar a mobilização, com as
atividades de ruas – mutirões – de coletas de
assinaturas, debates, atos e uma intensa campanha contra o
golpe militar e pela anulação do impeachment. Ampliar e
multiplicar os comitês em todo o País e reforçar a luta
política para reagrupar ativismo que quer busca uma
alternativa independente da política de capitulação diante do
golpe e conciliação com os golpistas.
A
anulação do impeachment comprado, a derrota do golpe não virá do
convencimento de ministros de toga ou de parlamentares
golpistas. Como todas as conquistas verdadeiras do povo brasileiro,
apenas pode ser resultado de intensa mobilização dos
explorados e de suas organizações de luta. Com seus proprios
métodos de luta.