Mariana Tokarnia - Repórter da
Agência Brasil
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
criticou as propostas do PMDB para a educação em um eventual governo do
vice-presidente Michel Temer, caso o peemedebista assuma o Palácio do Planalto
no lugar da presidenta Dilma Rousseff. Segundo Mercadante, as ideias,
apresentadas no documento A Travessia Social, são "um passo em
direção ao passado e não ao futuro”.
No documento, elaborado pela Fundação Ulysses
Guimarães e ainda não lançado oficialmente, o PMDB expõe uma série de medidas
para a área social. Na educação, o partido sugere, por exemplo, a bonificação
de professores, por meio de um programa de certificação federal dos
profissionais do ensino fundamental e médio. Pela proposta, a União passaria a
custear um pagamento adicional à remuneração regular de acordo com os
resultados dos docentes.
Segundo Mercadante, iniciativas semelhantes não
deram bons resultados. “Internacionalmente, academicamente, as pesquisas não
mostram que essa é uma política de resultados seguros. Mesmo experiências no
Brasil, como em São Paulo, não tiveram o que se esperava em termos de retorno”,
disse.
Orçamento
O petista também criticou a possibilidade de
desvinculação de recursos para a educação. A questão é tratada no
documento Uma Ponte para o Futuro, divulgado pelo PMDB em outubro
do ano passado. No texto, o partido de Temer diz ser “necessário, em primeiro
lugar, acabar com as vinculações constitucionais estabelecidas, como no caso
dos gastos com saúde e com educação, em razão do receio de que o Executivo
pudesse contingenciar, ou mesmo cortar esses gastos em caso de necessidade”.
“A desvinculação de receita é um grave retrocesso.
É um desmonte do PNE [Plano Nacional de Educação], que é uma estratégia
extremamente ousada”, disse Mercadante. O PNE estabelece que até 2024, o Brasil
invista pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação. Atualmente,
o investimento é de 6,2%. “A meta 20 [que trata do financiamento] não está
resolvida. O que o PNE diz é que precisaríamos de mais receitas para educação”,
ponderou o ministro.
A Constituição estabelece que União invista um
mínimo de 18% do que arrecada em educação e, estados e municípios, 25% de suas
receitas. O fim do mínimo constitucional e a desvinculação de receita, segundo
Mercadante, inviabilizaria também a Lei do Piso [Lei 11.738/2008], que define
um mínimo a ser pago aos professores. Estados e municípios já manifestaram
dificuldades em cumprir a lei.
Sociedade civil
Além de Mercadante, as possíveis mudanças na
condução das políticas de educação também foram alvo de críticas de entidades
que atuam na área. Para o Fórum Nacional de Educação (FNE), composto por 50
entidades representantes da sociedade civil e do Poder Público, a medidas
peemedebistas “são contrárias a tudo o que o movimento educacional aponta para
a educação”, de acordo com o coordenador da entidade, Heleno Araújo.
“Investir no melhor desempenho [do professor] e
deixar de colocar receita [na educação] é um prejuízo geral do PNE. São
políticas paliativas que tentam encobrir a falta de financiamento da educação”,
acrescentou Araújo.
A presidente-executiva do movimento Todos pela
Educação, Priscila Cruz, também apontou problemas nas propostas do PMDB para o
setor. “A desvinculação de recursos da educação em um momento em que não se
cumpriram sequer as agendas do século passado, em que ainda temos mais de 3
milhões de crianças fora da escola e a minoria aprende o que tem direito, é
retrocesso”, disse.
Em relação às bonificação de professores, Priscila
disse que a questão é polêmica. Embora bem-sucedida em alguns países, segundo
ela, “não há evidência de que a política ajudou a avançar a educação”. A
diretora do Todos pela Educação disse que melhorar a formação de professores e
tornar a carreira mais atrativa são medidas mais efetivas. O bônus, segundo
Priscila, funciona “em países que conseguiram fazer a lição de casa mais forte
na base, em que a carreira de professor é muito disputada”, o que não é o caso
do Brasil.
Propostas de Temer
Em relação à desvinculação de receitas para
educação, o PMDB diz que, no Brasil, a maior parte do Orçamento chega ao
Congresso para ser discutido e votado, com a maior parte dos recursos já
comprometidos ou contratados, seja por meio de vinculações constitucionais,
seja por indexação obrigatória dos valores.
“Assim, a maior parte das despesas públicas
tornou-se obrigatória, quer haja recursos ou não. Daí a inevitabilidade dos
déficits, quando os recursos previstos não se realizam, ou porque as receitas
foram superestimadas, ou porque houve retração na atividade econômica, e,
portanto, perda de receitas”, diz trecho de Um Ponte para o Futuro.
Já no documento A Travessia Social, o
partido de Temer diz que o governo federal precisa “de um protagonismo muito
maior do que tem tido até hoje, para assegurar que, na diversidade do país, as
crianças brasileiras, onde quer que vivam, tenham as mesmas oportunidades de
educação e de conhecimento”.
Edição: Luana Lourenço
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